Mais de 9 milhões de jovens não concluíram a educação básica e não frequentam escolas, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua, módulo Educação, IBGE, 2022).
A fim de compreender os principais motivos e consequências desses jovens não terem concluído a educação básica e não frequentarem a escola, identificar a intenção em retomar os estudos e investigar o potencial de iniciativas e políticas mais efetivas para promover o retorno, o Itaú Educação e Trabalho e a Fundação Roberto Marinho lançam a pesquisa inédita “Juventudes fora da escola” . O estudo é fruto de colaboração técnica com o Instituto Datafolha, a Conhecimento Social Estratégia e Gestão e a Rede Conhecimento Social e traz à tona a situação de violação do direito à educação, previsto nos artigos 205 e 208 da Constituição Federal, e aponta, a partir das perspectivas dos jovens e de especialistas, que não há uma única iniciativa/política que seja suficiente para assegurar o retorno de todos os jovens.
Entre os principais achados da pesquisa está que 73% dos jovens que estão fora da escola (o equivalente a 7 milhões de jovens) pretendem concluir a educação básica.
“O fato de termos mais de 9 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que não frequentam a escola e não concluíram a educação básica revela uma preocupante ‘tolerância’ da sociedade brasileira em relação à exclusão educacional dos mais vulneráveis. A maioria desses jovens provém de famílias com renda per capita de até 1 salário-mínimo, sendo que sete em cada 10 são negros. É alarmante constatar que 86% deles já ultrapassaram a faixa etária adequada para frequentar o ensino regular. Enquanto para os jovens das camadas mais privilegiadas é praticamente uma formalidade concluir o ensino médio, para as juventudes mais vulneráveis, a violação do direito à educação não tem recebido o devido cuidado. Diante do custo social e econômico avassalador tanto para os jovens quanto para o país, torna-se essencial transformar essa tolerância em ação concreta: todos os setores da sociedade precisam unir esforços para viabilizar o retorno e a conclusão da educação básica para esses jovens. Não seremos uma nação justa e economicamente forte se permitirmos que dois em cada dez jovens cheguem à vida adulta sem ao menos concluir o ensino médio”, afirma Rosalina Soares, Assessora de Pesquisa e Avaliação da Fundação Roberto Marinho.
Outro destaque é que 77% dos jovens que saíram da escola e pretendem concluir o ensino médio têm intenção de cursar o ensino técnico, uma sinalização da importância do preparo para o mundo do trabalho dentro da escola.
A pesquisa ouviu mais de 1,6 mil jovens, de 15 a 29 anos, em todo o território nacional, além de contar com etapa qualitativa junto a jovens e especialistas. O estudo será lançado nesta terça-feira (12), durante evento com o mesmo nome, “Juventudes fora da escola”, em São Paulo, com participação do poder público, setor produtivo e sociedade civil para debater os desafios e ações para combater a evasão escolar.
Entre as principais razões para terminar o ensino médio os jovens apontam a perspectiva de melhora da condição profissional, seja para ter um emprego melhor (37%) ou arrumar um emprego (15%), seguido pelo desejo de cursar uma faculdade (28%).
Já entre os 27% que responderam não pretender concluir o ensino médio, as principais razões para isso são a necessidade de trabalhar (32%), seguida por precisar cuidar da família (17%). Do total de jovens ouvidos, 92% concordam que concluir a educação básica ajudaria a ter melhores oportunidades. Na pesquisa qualitativa, os jovens reforçaram que a necessidade de trabalhar foi um dos motivadores para não concluírem os estudos, mas sinalizaram que não o teriam feito se soubessem que as oportunidades de trabalho para quem não concluiu o Ensino Médio são limitadas e precárias, se tivessem ajuda para conciliar o emprego e estudos e se a escola preparasse melhor para o Ensino Superior e o mundo do trabalho.
Para Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, a pesquisa reforça a urgência de políticas públicas e iniciativas intersetoriais para garantir educação de qualidade e preparo para o mundo do trabalho para as juventudes. “Os dados revelam a questão do mundo do trabalho como central na decisão desses jovens que estão fora da escola, seja na tomada de decisão para interromper os estudos, seja para retomá-los. Temos o compromisso constitucional de, na escola, formarmos profissionalmente os jovens, para que eles tenham condições de garantir inserção produtiva digna e dar sequência na carreira que desejarem optar. Fortalecer a Educação Profissional e Tecnológica é fundamental nesse sentido, para que os jovens tenham formação adequada e alinhada às tendências do mundo do trabalho, assim como é urgente criarmos condições para que essa parcela da população estude e tenha oportunidades profissionais”, avalia.